Dança e Metafísica do (s) Movimento (s)

Dança e Metafísica do (s) Movimento (s)

30/06/2020 0 Por magodm

Dança e Metafísica do (s)  Movimento (s)

Por: Franz Anton Cramer

Tradução: Andre Gama

Fonte: https://laokoontango.com/blog/dance-and-the-metaphysics-of-movements/

 

Em nossa imaginação, dança e movimento estão indissociáveis. Mas eles são realmente a mesma coisa? Se alguém deseja compreender as diferenças entre dança, movimento e arte, a metafísica entra em jogo.

Porque dança é movimento, dança não existe. De uma perspectiva filosófica, é assim que o paradoxo em que a forma de arte da dança está travada poderia ser formulado. O movimento é um estado imaterial de material. O movimento é um fenômeno que não tem densidade, duração ou substância própria. A base para a realização da dança é, portanto, algo que está fora de nossos conceitos de realidade. Embora o movimento ocorra, ele nunca permanece sustentado como tal. Não tem “base” ou “fundação” própria. Movimento não é nada.

O movimento mostra-se apenas em segundo lugar, como efeito ou resultado. E para isso, é preciso um meio. Na dança, os portadores do movimento são corpos – geralmente. Como resultado do movimento, eles mudam seu formato, sua forma, seu contorno e, muitas vezes, também seu significado. No entanto, como corpos, eles permanecem os mesmos, enquanto a dança como um movimento passa sobre eles. Nada do movimento permanece no corpo. Nada do que desejamos ou esperamos da dança – beleza, juventude, plenitude de significado ou presença – é causalmente integral a ela. Assim, embora o movimento possa ser um sinal de vida – apenas algo que se move está vivo – ele não tem uma vida própria.

 

O Ápice da Arte

No entanto, se uma forma de arte se baseia precisamente nessa propriedade da não substancialidade, ou seja, se a dança é caracterizada principalmente por uma propriedade que não tem existência objetiva, o status desta arte também é incerto. Clement Greenberg (1909-1994)¹, o notório crítico de arte americano do período moderno do pós-guerra, descreveu o auge da arte, seu classicismo, dizendo que meios puros são aplicados. Todo o significado está no uso desses meios. A história da arte, portanto, ganhou sua própria realização na criação da arte abstrata. Criou algo que só significa si mesmo e, como tal, é uma peça de museu para se maravilhar.

Para a dança, essa forma de realização é difícil de imaginar. Pode ser o caso de que sua aparência, física e material, como movimento do corpo, não tenha forma museológica ou objetividade. Assim, pode ser o caso de que há apenas uma garantia puramente metafísica da física da dança. O que gostamos de ver como as qualidades autênticas, universais e incondicionais da dança, ou seja, o movimento por causa do movimento, que é desprovido de referência, e a presença do corpo humano como um evento artístico e uma manifestação, tem sua base e sua lógica precisamente em algo completamente imaterial. Ou seja, na metafísica do (s) movimento (s) e na transcendência do portador do movimento individual que vem até nós, através de um quadro de referências subordinadas, especulações e auxílios: crítica de dança, técnica de dança, teoria da expressão, impressão ou qualidade da experiência. Então não é de admirar que por muito tempo, a filosofia não teve tempo para dançar. Se algo deve ser pensado, então antes de mais nada tem que ser comprovado. Algo que é infundável, no entanto, não precisa ser pensado.

 

Dentro das Categorias

Como a dança existe apesar de tudo isso, instrumentos que não sejam a filosofia pura são necessários para entendê-la. Em consonância com a estratégia geral do modernismo, de dar a cada arte sua própria dimensão inalienável, a dança, também, inventa uma história, estética e algumas suposições básicas para si mesma, na esperança de que eles garantam sua existência. No contexto ocidental, essas características são geralmente juventude, flexibilidade, falta de palavras, musicalidade e iconicidade. Essas características estão ligadas ao fenômeno de movimento “de fora”, por assim dizer, como uma espécie de descrição ou circunscrição. Isso significaria que a dança é o que está dentro dessas categorias. Seria o que está coberto por nossos critérios quando eles se aninham até ele, às vezes amorosamente, às vezes protetoramente, às vezes até indecentemente. A qualidade imaterial da dança, sua capacidade de melhoria lógica, é protegida e cercada pelas estratégias estéticas do negócio da cultura. Aqui reside o grande poder da dança.

É precisamente porque a dança é movimento que é necessário. Representa o que não pode ser possuído na vida, e o que, por essa mesma razão, é tão precioso. A dança pode afirmar a metafísica do movimento, e eles se tornam o verdadeiro recurso de sua realidade, sua eficácia no mundo. Assim, a dança faz de sua natureza imaterial a única realidade.

 

  • Clement Greenberg: Homemade Esthetics: Observations on Art and Taste. New York, NY [inter alia]: Oxford University Press 2000, 256 pages.

Franz Anton Cramer é um acadêmico de Dança e escritor.

Tradução: Andre Gama

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Fonte: https://laokoontango.com/blog/dance-and-the-metaphysics-of-movements/